sábado, 23 de janeiro de 2010

metade - osvaldo montinegro

    • Que a força do medo que tenhoNão me impeça
      de ver o que anseio.Que a morte de tudo em que acreditoNão me tape os ouvidos e
      a bocaPorque metade de mim é o que eu gritoMas a outra metade é silêncio.Que a
      música que ouço ao longeSeja linda ainda que tristezaQue a mulher que eu amo
      seja pra sempre amadaMesmo que distantePorque metade de mim é partidaMas a outra
    • metade é saudade.Que as palavras que faloNão sejam
      ouvidas como prece e nem
      repetidas com fervorApenas respeitadasComo a única
      coisa que resta a um homem
      inundado de sentimentosPorque metade de mim é o
      que ouçoMas a outra metade é o
      que calo.Que essa minha vontade de ir
      emboraSe transforme na calma e na paz que
      eu mereçoE que essa tensão que me
      corrói por dentroSeja um dia
      recompensadaPorque metade de mim é o que
      pensoMas a outra metade é um vulcão.Que
      o medo da solidão se afasteE que o
      convívio comigo mesmo se torne ao menos
      suportávelQue o espelho reflita em
      meu rosto um doce sorrisoQue eu me lembro ter
      dado na infânciaPor que metade
      de mim é a lembrança do que fuiA outra metade eu
      não sei.Que não seja
      preciso mais que uma simples alegriaPra me fazer aquietar o
      espíritoE que o
      teu silêncio me fale cada vez maisPorque metade de mim é
      abrigoMas a outra
      metade é cansaço.Que a arte nos aponte uma respostaMesmo que
      ela não saibaE
      que ninguém a tente complicarPorque é preciso simplicidade pra
      fazê-la
      florescerPorque metade de mim é a platéiaA outra metade é a canção.E que
      a
      minha loucura seja perdoadaPorque metade de mim é amorE a outra metade
      também.

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