- Que a força do medo que tenhoNão me impeça
de ver o que anseio.Que a morte de tudo em que acreditoNão me tape os ouvidos e
a bocaPorque metade de mim é o que eu gritoMas a outra metade é silêncio.Que a
música que ouço ao longeSeja linda ainda que tristezaQue a mulher que eu amo
seja pra sempre amadaMesmo que distantePorque metade de mim é partidaMas a outra - metade é saudade.Que as palavras que faloNão sejam
ouvidas como prece e nem
repetidas com fervorApenas respeitadasComo a única
coisa que resta a um homem
inundado de sentimentosPorque metade de mim é o
que ouçoMas a outra metade é o
que calo.Que essa minha vontade de ir
emboraSe transforme na calma e na paz que
eu mereçoE que essa tensão que me
corrói por dentroSeja um dia
recompensadaPorque metade de mim é o que
pensoMas a outra metade é um vulcão.Que
o medo da solidão se afasteE que o
convívio comigo mesmo se torne ao menos
suportávelQue o espelho reflita em
meu rosto um doce sorrisoQue eu me lembro ter
dado na infânciaPor que metade
de mim é a lembrança do que fuiA outra metade eu
não sei.Que não seja
preciso mais que uma simples alegriaPra me fazer aquietar o
espíritoE que o
teu silêncio me fale cada vez maisPorque metade de mim é
abrigoMas a outra
metade é cansaço.Que a arte nos aponte uma respostaMesmo que
ela não saibaE
que ninguém a tente complicarPorque é preciso simplicidade pra
fazê-la
florescerPorque metade de mim é a platéiaA outra metade é a canção.E que
a
minha loucura seja perdoadaPorque metade de mim é amorE a outra metade
também.
sábado, 23 de janeiro de 2010
metade - osvaldo montinegro
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